sábado, 18 de maio de 2013

Tim Berners-Lee. Decepção proporcional à expectativa



Desde o dia que soube que teria a oportunidade de participar deste fantástico evento, o www2013, que reúne os papas da Internet e este ano seria no Rio de Janeiro, fiquei muito empolgado. Particularmente pelo fato que poderia conhecer nada mais nada menos do que o inventor da web, Tim Berners-Lee.

Minha expectativa era grande para ouvir o que tinha a dizer sobre o futuro da Internet alguém que, simplesmente criou o www e com isso revolucionou a rede.

 Aguardei ansiosamente. Primeiro, o dia que estava marcado para ele falar. Depois o momento. Mas então o inimaginável aconteceu. A palestra de Tim Berners-Lee se baseou em torno de algo conhecido como DRM (Digital Rights Management). Sim... O inventor da web, de quem se esperava uma visão mais libertária, por uma Internet mais aberta, flexível, veio falar de um padrão de gerenciamento de copyright. 

O DRM é uma tecnologia que permite aos donos dos direitos autorais de um determinado conteúdo - video, música, texto, etc., controlar o conteúdo fornecido, mesmo após a venda ter sido concluída. Basicamente é como se, depois que um consumidor comprasse um CD, por exemplo, a gravadora pudesse decidir o que ele vai fazer com o material. Em outras palavras, o DRM aumenta ainda mais o poder da indústria sobre o consumidor.

Quem entende de tecnologia deu sua opinião: O DRM não vai funcionar. Ele é péssimo em evitar quebra de direitos autorais, mas é muito eficiente em impedir a inovação.

Tim Berners-Lee, defendeu a incorporação do DRM ao HTML5.

A sensação durante a palestra era de incredulidade. Quando abriram para perguntas da platéia à Tim, foi uma grande confusão. Como esperado, houve polêmica e as perguntas foram bem longas. Todos queriam saber o motivo que levou o criador da web a defender uma posição tão conservadora.

Afinal, o mundo discute, desde o advento do Napster, a possibilidade de uma nova forma de relação consumidor x indústria, do conteúdo "protegido" por direitos autorais. Até onde a gravadora, por exemplo, não esteve abusando de sua posição? Sabemos que o artista leva apenas uma pequena parte na divisão do bolo. E o consumidor paga caro. Então, uma discussão que vinha sendo saudável, voltou ao ponto de partida? Agora sob o aval do criador da web?

Ao sair da palestra comentei com amigos minha impressão. Acharam que eu estava exagerando. Mais tarde, ao conversar com outros presentes, minha opinião se mostrou correta. A palestra com Tim foi a grande decepção do evento.


sexta-feira, 17 de maio de 2013

Quinta-feira na www2013 - Um dia de altos e baixos


A quinta-feira foi marcada pela excelente apresentação do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis. O leitor certamente se lembrará de uma reportagem do Jornal Nacional que mostrava dois ratinhos cujos cérebros foram conectados por eletrodos, um em Natal/Rio Grande do Norte, e o outro na Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Dr. Miguel é nada mais nada menos do que o cientista responsável por este projeto.

Ele nos explicou que as pesquisas estão permitindo descobertas fantásticas sobre o cérebro. Hoje sabe-se, por exemplo, que o cérebro está muito ligado ao contexto externo que lhe é apresentado como realidade, e que se adapta rapidamente a qualquer mudança de contexto, podendo rearrumar-se para funcionar da melhor maneira possível.

Inclusive, afirmou que estamos evoluindo enquanto seres humanos em função da expansão que a vida moderna, em particular a Internet, está causando em nossos cérebros. Disse que a evolução genética está perdendo para a evolução de expansão do contexto cerebral.

No caso dos dois ratos cujos cérebros foram conectados, os dois animais trabalharam em cooperação para resolver determinadas tarefas. Dr.Miguel explicou que um dos ratos era o codificador e o outro o decodificador. E que é provável que o decodificador tenha a sensação de sentir o corpo do outro como uma extensão do seu próprio corpo. Assim, um estímulo nos bigodes do primeiro rato (e o rato usa os bigodes para tatear o meio onde circula) é percebido pelo segundo rato como se fossem seus próprios bigodes. Portanto, é como se o segundo rato estivesse vestindo o corpo do primeiro, virtualmente.

Dr.Miguel também nos apresentou um projeto chamado "The Walk Again Project" (http://www.walkagainproject.org/), cujo objetivo é construir uma espécie de protese, um tipo de exoesqueleto que um ser humano desprovido de locomoção poderia vestir e controlar como o próprio cérebro, tornando-se uma espécie de ciborgue. O aparato enviaria informações de feedback para o cérebro do usuário, de forma que a experiência melhoraria continuamente, até que o objeto fosse totalmente integrado ao contexto do cérebro como uma parte integrante do corpo da pessoa. Para o cérebro não faz diferença.

Dr.Miguel contou que sugeriu à presidente da  república que na abertura da copa do mundo de 2014, um cadeirante usuário do dispositivo aparecesse no meio de campo do gramado, levantasse de sua cadeira de rodas sozinho, caminhasse até uma bola de futebol e a chutasse.

Na minha opinião é brilhante, enaltece a ciência brasileira, enche de esperança aqueles que como eu gostariam que coisas importantes fossem valorizadas no país. Essa idéia é muito, muito melhor do que apresentar crianças batendo latas ou um gari famoso dançando sorridente. Faz muito mais sentido. Ele apresentou um video com uma animação gráfica em 3D demonstrando como seria. Confesso que essa parte da palestra me emocionou. São poucos os momentos que vemos coisas assim acontecendo no Brasil.

A palestra do Dr. Miguel, enfim, encantou a todos na platéia, mostrou que a ciência bem direcionada pode sim mudar o ser humano e o dia a dia na vida das pessoas. Antigos sonhos foram reavivados aqui. Imagine poder fazer pessoas deficientes físicas recuperarem suas funcionalidades. E isso tudo liderado por um brasileiro! Simplesmente o máximo.

Algo que ele também mencionou e que acho que vale o comentário é que o cérebro, apesar de controlar toda a parte sensorial do organismo e administrar o reflexo da dor, por exemplo, ele próprio não sente dor. Uma pessoa ou animal que tem seu crânio aberto e seu cérebro operado, simplesmente não percebe dor quando o objeto manipulado é o próprio cérebro.

Apesar da euforia provocada pela primeira palestra, a que se seguiu foi motivo de polêmica. O tão aguardado keynote speaker Tim Berners-Lee, inventor da web, meio que decepcionou - pelo menos a mim. Será o assunto do meu próximo post.

Até breve.



quinta-feira, 16 de maio de 2013

www2013 - Luis von Ahn - Genial! (atualizado às 11:48)



Esta semana estou tendo a honra de participar do evento www2013, encontro mundial que acontece uma vez por ano em diversas cidades no mundo e este ano é no Rio, no hotel Windsor Barra. Basicamente é uma conferência com os grandes players da Internet, contando sempre com a participação do W3C, o consórcio internacional liderado por Tim Berners-Lee que cria os padrões da Internet.

Apesar do evento ter tido início na segunda-feira dia 13, a cerimônia oficial de abertura ocorreu ontem, quarta-feira e foi onde tivemos a primeira palestra dos esperados keynote speakers. Na ocasião quem falou foi Luis von Ahn e foi simplesmente genial!



Luis von Ahn é natural da Guatemala, um jovem empreendedor de 34 anos. Iniciou sua apresentação contando-nos que quando criança seu grande sonho era criar uma academia onde as pessoas gerariam eletricidade durante a prática de exercícios físicos. Assim, ao se exercitar em uma bicicleta, esteira ou aparelho de musculação, a pessoa estaria simultaneamente gerando energia. As pessoas poderiam frequentar o estabelecimento sem custo. E em contrapartida a energia gerada nos exercícios seria vendida à companhia de energia da cidade.

Luis se tornou um adulto mas o modelo de negócio não se estabeleceu. No entanto, o cerne de sua idéia (que poderíamos chamar de colaboração trocada), permaneceu vivo e ele começou a utilizá-lo em seus novos projetos.

Um dia, ao se inscrever em um site de relacionamento e enquanto digitava os caracteres de um campo de confirmação "captcha" para garantir ao site que um humano estava se cadastrando, ele não pode deixar de pensar no tempo que as pessoas perdem na vida digitando captchas. Fez alguns cálculos e, levando em conta que geramente alguém leva 10 segundos para digitar um captcha, chegou a conclusão que várias horas de trabalho humano são gastas nesta atividade quase inútil, que não acrescenta nada em nossas vidas e só existe para evitar a ação de má-fé de terceiros contra sites.

E foi então que, bingo! Por que não aproveitar o trabalho de digitação de captchas para uma atividade mais nobre? E eis que ele criou o "reCaptcha" - um sistema de digitalização de livros a partir da digitação de captchas nos sites mundo afora.

O que acontece é que hoje em dia, imagens com trechos de livros que não puderam ser digitalizados por softwares de reconhecimento de caracteres são utilizados nos captchas de diversos sites. E ao digitar os caracteres dos mesmos as pessoas estão contribuindo com a digitalização de um livro, ainda que não estejam cientes disso.

Luis também falou que nos EUA há empresas que contratam (e pagam) pessoas para digitar captchas, no intuito de burlá-los. Há muita gente interessada nisso, via de regra spammers. Ao invés de ser uma preocupação para Luis, isso representa para ele um valor adicional: No pior dos casos, além de mais gente contribuindo para a digitalização, ainda há a geração de emprego.

Genial! Já estaria de bom tamanho, mas Luis não parou por aí. Devido a sua origem, vindo de um país pobre da América Central, a Guatemala ele não podia deixar de pensar em algo que permitisse equalizar financeiramente a vida das pessoas. E ele percebeu que muitas pessoas na Guatemala gostariam de aprender uma língua estrangeira, se tivessem condição, pois é uma forma de crescer financeiramente na vida - saber outras línguas.

Luis explicou à platéia que é raríssimo um americano ter vontade de aprender uma língua estrangeira. E quando o faz é porque vai viajar. Então estuda francês para uma viagem à Paris, ou espanhol se vai visitar a América do Sul. Mas geralmente se trata de uma curiosidade.

Por outro lado, as pessoas fora dos EUA aprendem uma língua estrangeira (e geralmente o inglês), como uma forma de aumentar suas chances de empregabilidade, ou seja, está mais ligado à sobrevivência (isso para os americanos é um fato ignorado).

Ocorre que aprender línguas custa dinheiro. Como resolver o problema?

Em mais uma de suas criações geniais, Luis von Ahn fez o "Duolingo" - Um site de ensino de línguas onde a pessoa estuda de graça, mas todos os exercícios de tradução que ela faz são aproveitados por empresas que estejam precisando traduzir alguma coisa.

Ele provou que a tradução é muito mais barata do que se profissionais fossem contratados para isso, muito melhor do que a tradução feita por máquinas e o resultado final é de qualidade equivalente a uma tradução feita por profissionais.

Enfim, a fundamentação de suas idéias - a colaboração cruzada - é uma jogada simplesmente genial. Assisti a muitas outras palestras esses dias, que mostravam técnicas e conceitos extremamente complexos, mas no final das contas, as idéias mais óbvias são as que mais modificam o mundo.

Fazendo uma analogia com o que tive o prazer de aprender no curso de inovação com o consultor Carlos Nepomuceno (http://nepo.com.br) sobre colaboração, acredito que este é um capítulo novo nessa história.

Fico pensando onde mais poderíamos utilizar essa prática no nosso dia a dia para mudar o mundo para melhor, de maneira ainda mais eficiente.

Aguardem novidades sobre o evento!


segunda-feira, 8 de abril de 2013

Uma abordagem revolucionária no uso do QR Code

Embora amplamente utilizado em embalagens de produtos nas prateleiras dos supermercados, em páginas de revistas semanais, outdoors, videos de lançamentos imobiliários, guias turísticos, etc., o QR Code ainda é um desconhecido para grande parte das pessoas.

O QR Code é um código de barras em preto e branco e em duas dimensões. Foi desenvolvido para ser veiculado em mídia impressa, com o objetivo de levar o leitor a um endereço web. Dessa forma, o interessado pode obter maiores informações sobre aquilo que lhe chamou a atenção.

O QR Code é lido pela câmera de telefones celulares. Qualquer smartphone genérico hoje em dia já vem com um aplicativo que lê esse tipo de código de barras (o famoso bar code scanner app).

Um QR Code na embalagem de um produto, por exemplo, pode levar o consumidor a um site que descreve as características do mesmo, mostra um histórico da empresa, a forma como ele foi produzido, onde obtém sua matéria-prima, enfim, um local onde o consumidor pode aprofundar seu conhecimento sobre o que está comprando.

Em alguns casos, pode-se comprar o produto pelo QR Code, por exemplo, pedir uma pizza através de um panfleto da pizzaria entregue no escaninho do correio já é possível em alguns países.

Alguns monumentos históricos têm QR Codes impressos em placas informativas, através dos quais as pessoas obtém dados extras sobre aquele ponto turístico.

As opções de uso são vastas. Mas todas têm em comum levar alguém do mundo real, físico, para o mundo virtual, isto é, fazer uma pessoa acessar um website que tenha relação com aquilo que está se vendo.

Em uma pesquisa rápida no Google, é fácil encontrar listas de usos criativos para o QR Code. Mas via de regra, é conselho comum não utilizar o QR Code em meio eletrônico, pois isto estaria indo de encontro ao seu objetivo primordial. 

Por quê mostrar um QR Code em meio eletrônico, se o objetivo é justamente levar o usuário para lá? Ele já está lá. Então considera-se que não há sentido nesta abordagem.

Mas... Não tem aquela coisa de "pensar fora da caixinha"? E se o QR Code fosse utilizado para levar a um link, não de uma página de website, mas de um arquivo para download?

Dessa forma, ao apontar a câmera do celular para a tela do computador, um arquivo seria automaticamente transferido para o aparelho. Isso causa uma curiosa sensação de que o arquivo está "pulando" do monitor para o celular.  Mas a revolução não é apenas esta.

Imagine links que geram relatórios em PDF ou documentos do Office, estatísticas, ou consolidação de dados, enfim, qualquer produto destinado ao usuário final. Através do uso desta tecnologia do QR Code aliada a sistemas web e banco de dados, é possível agora oferecer ao nosso cliente, consulta às informações sem nem ao menos logar em um sistema.

É como se estivéssemos levando os dados para "caminhar lá fora". Quebrando os limites físicos entre os dados e o usuário final, consumidor da informação.

Um usuário poderia abrir uma planilha excel em seu celular, apontando a camera do mesmo para um QR Code, até mesmo impresso.

Espectadores de uma palestra poderiam obter a apresentação do palestrante imediatamente durante o evento, ao apontarem seus smartphones para o QR Code no telão do projetor.

A imaginação aqui é o limite. Com um pouco de criatividade é possível inventar usos totalmente inéditos para esta idéia inovadora.


O funcionamento seria algo como o ilustrado na figura:

















Penso que estamos diante de uma quebra de paradigma aqui. A idéia explicitada abre caminho para uma abordagem totalmente diferente no desenvolvimento de sistemas, possibilitando ao usuário consumir a informação sem a necessidade de uma interface gráfica.  Dessa forma, estaria-se criando uma nova maneira de relacionamento na ciência da informação.

Poderia-se oferecer ao usuário uma espécie de cardápio, onde estariam impressos os QR Codes, todos com seu operacional devidamente identificados por subtítulos, por exemplo: Relação de edifícios no centro com acessibilidade, gráfico comparativo de resultados trimestrais, apresentação do funcionário João Silva, lista de contatos da empresa.

Sobre este último exemplo da lista de contatos, destaco especial atenção ao fato de que seria possível aliar essa nova abordagem a um trabalho colaborativo. Dessa forma as informações que fossem sendo produzidas aos poucos por muitos funcionários dando entrada nos sistemas de dados, gerariam um produto consolidado, que poderia ser consumido por todos na empresa.

Podemos usar esta idéia para mudar para melhor radicalmente a maneira como trabalhamos, produzimos e também a forma como nossos clientes consomem nossos produtos.