sexta-feira, 17 de maio de 2013

Quinta-feira na www2013 - Um dia de altos e baixos


A quinta-feira foi marcada pela excelente apresentação do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis. O leitor certamente se lembrará de uma reportagem do Jornal Nacional que mostrava dois ratinhos cujos cérebros foram conectados por eletrodos, um em Natal/Rio Grande do Norte, e o outro na Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Dr. Miguel é nada mais nada menos do que o cientista responsável por este projeto.

Ele nos explicou que as pesquisas estão permitindo descobertas fantásticas sobre o cérebro. Hoje sabe-se, por exemplo, que o cérebro está muito ligado ao contexto externo que lhe é apresentado como realidade, e que se adapta rapidamente a qualquer mudança de contexto, podendo rearrumar-se para funcionar da melhor maneira possível.

Inclusive, afirmou que estamos evoluindo enquanto seres humanos em função da expansão que a vida moderna, em particular a Internet, está causando em nossos cérebros. Disse que a evolução genética está perdendo para a evolução de expansão do contexto cerebral.

No caso dos dois ratos cujos cérebros foram conectados, os dois animais trabalharam em cooperação para resolver determinadas tarefas. Dr.Miguel explicou que um dos ratos era o codificador e o outro o decodificador. E que é provável que o decodificador tenha a sensação de sentir o corpo do outro como uma extensão do seu próprio corpo. Assim, um estímulo nos bigodes do primeiro rato (e o rato usa os bigodes para tatear o meio onde circula) é percebido pelo segundo rato como se fossem seus próprios bigodes. Portanto, é como se o segundo rato estivesse vestindo o corpo do primeiro, virtualmente.

Dr.Miguel também nos apresentou um projeto chamado "The Walk Again Project" (http://www.walkagainproject.org/), cujo objetivo é construir uma espécie de protese, um tipo de exoesqueleto que um ser humano desprovido de locomoção poderia vestir e controlar como o próprio cérebro, tornando-se uma espécie de ciborgue. O aparato enviaria informações de feedback para o cérebro do usuário, de forma que a experiência melhoraria continuamente, até que o objeto fosse totalmente integrado ao contexto do cérebro como uma parte integrante do corpo da pessoa. Para o cérebro não faz diferença.

Dr.Miguel contou que sugeriu à presidente da  república que na abertura da copa do mundo de 2014, um cadeirante usuário do dispositivo aparecesse no meio de campo do gramado, levantasse de sua cadeira de rodas sozinho, caminhasse até uma bola de futebol e a chutasse.

Na minha opinião é brilhante, enaltece a ciência brasileira, enche de esperança aqueles que como eu gostariam que coisas importantes fossem valorizadas no país. Essa idéia é muito, muito melhor do que apresentar crianças batendo latas ou um gari famoso dançando sorridente. Faz muito mais sentido. Ele apresentou um video com uma animação gráfica em 3D demonstrando como seria. Confesso que essa parte da palestra me emocionou. São poucos os momentos que vemos coisas assim acontecendo no Brasil.

A palestra do Dr. Miguel, enfim, encantou a todos na platéia, mostrou que a ciência bem direcionada pode sim mudar o ser humano e o dia a dia na vida das pessoas. Antigos sonhos foram reavivados aqui. Imagine poder fazer pessoas deficientes físicas recuperarem suas funcionalidades. E isso tudo liderado por um brasileiro! Simplesmente o máximo.

Algo que ele também mencionou e que acho que vale o comentário é que o cérebro, apesar de controlar toda a parte sensorial do organismo e administrar o reflexo da dor, por exemplo, ele próprio não sente dor. Uma pessoa ou animal que tem seu crânio aberto e seu cérebro operado, simplesmente não percebe dor quando o objeto manipulado é o próprio cérebro.

Apesar da euforia provocada pela primeira palestra, a que se seguiu foi motivo de polêmica. O tão aguardado keynote speaker Tim Berners-Lee, inventor da web, meio que decepcionou - pelo menos a mim. Será o assunto do meu próximo post.

Até breve.



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